Nota de Imprensa

O reino das gigantes enterradas

2 de Março de 2016

Nesta nova imagem enorme vemos nuvens de gás vermelhas iluminadas por estrelas massivas raras que começaram a brilhar há pouco tempo e por isso ainda se encontram profundamente enterradas em espessas nuvens de poeira. Estas estrelas muito jovens e extremamente quentes são apenas personagens passageiras no palco cósmico e a sua origem permanece um mistério. A enorme nebulosa onde estas gigantes se formaram, juntamente com o meio rico e fascinante que as envolve, foi capturada em pormenor pelo Telescópio de Rastreio do VLT do ESO (VST) no Observatório do Paranal, no Chile.

A RCW 106 é uma extensa nuvem de gás e poeira situada a cerca de 12 000 anos-luz de distância na constelação da Régua. O nome da região foi assim definido por se tratar da entrada nº 106 num catálogo de regiões H II da Via Láctea austral [1]. As regiões H II como a RCW 106 são constituídas por nuvens de hidrogénio gasoso que está a ser ionizado pela intensa radiação estelar de estrelas jovens muito quentes, fazendo com que as nuvens brilhem e apresentem formas estranhas e maravilhosas.

A RCW 106 propriamente dita é uma nuvem vermelha situada acima do centro nesta nova imagem, embora uma grande parte desta enorme região H II se encontre escondida pela poeira e seja muito mais extensa do que a zona que é observada no visível. Podemos ainda observar nesta imagem de grande angular do VST muitos outros objetos sem qualquer relação com a região H II. Por exemplo, os filamentos que se vêem à direita da imagem são restos de uma supernova antiga e os filamentos brilhantes vermelhos em baixo à esquerda rodeiam uma estrela invulgar muito quente [2]. Também podemos observar um pouco por toda a paisagem cósmica zonas de poeira escura obscurante.

Os astrónomos já estudam a RCW 106 há algum tempo, embora não sejam as nuvens vermelhas que lhes chamem a atenção, mas sim a misteriosa origem das estrelas poderosas e massivas que estão enterradas no seu interior. Embora sejam muito brilhantes, estas estrelas não podem ser observadas em imagens no visível, como é o caso desta imagem, uma vez que a poeira circundante é muito espessa, mas tornam a sua presença conhecida em imagens da região obtidas a maiores comprimentos de onda.

No caso de estrelas menos massivas como o Sol, compreendemos bem o processo que lhes dá origem  — à medida que nuvens de gás se atraem mutuamente pela força da gravidade, a temperatura e densidade aumentam originando assim a fusão nuclear. No entanto, para estrelas mais massivas enterradas em regiões como a RCW 106, esta explicação é não totalmente adequada. Estas estrelas — conhecidas pelos astrónomos como estrelas de tipo O — podem ter massas de muitas dezenas de vezes a massa do Sol e não é claro como é que conseguem juntar e manter gás suficiente para se formarem.

As estrelas do tipo O formam-se muito provavelmente das zonas mais densas das nebulosas como a RCW 106 e são notoriamente difíceis de estudar. Para além do obscurecimento por parte da poeira, outra dificuldade prende-se com o facto das suas vidas serem muito breves. Estas estrelas queimam o seu combustível nuclear em meras dezenas de milhões de anos, enquanto as estrelas mais leves têm vidas que duram muitas dezenas de milhares de milhões de anos. A dificuldade em formar estrelas com esta massa e a brevidade das suas vidas, faz com que estes objetos sejam muito raros — apenas uma em cada três milhões de estrelas na nossa vizinhança cósmica é uma estrela do tipo O. Nenhuma delas se encontra suficientemente próximo de nós para que a possamos estudar com todo o detalhe e por isso a formação destas gigantes estelares passageiras permanece um mistério, embora a sua enorme influência seja inconfundível em regiões H II brilhantes como esta.

Notas

[1] O catálogo foi compilado em 1960 por três astrónomos do Observatório do Monte Stromlo na Austrália, cujos apelidos eram Rodgers, Campbell e Whiteoak, daí o prefixo RCW.

[2] O resto de supernova é o SNR G332.4-00.4, também conhecido por RCW 103. Este objeto tem cerca de 2000 anos. Os filamentos mais abaixo são a RCW 104, que rodeiam a estrela Wolf-Rayet WR 75. Embora estes objetos tenham números RCW, investigação posterior detalhada revelou que nenhum deles era uma região H II.

Informações adicionais

O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é de longe o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO é  financiado por 16 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça, assim como pelo Chile, o país de acolhimento. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e operação de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera  o Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é um parceiro principal no ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. E no Cerro Armazones, próximo do Paranal, o ESO está a construir o European Extremely Large Telescope (E-ELT) de 39 metros, que será “o maior olho do mundo virado para o céu”.

Links

Contactos

Margarida Serote
Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço
Portugal
Telm.: 964951692
Email: eson-portugal@eso.org

Richard Hook
ESO education and Public Outreach Department
Garching bei München, Germany
Tel.: +49 89 3200 6655
Telm.: +49 151 1537 3591
Email: rhook@eso.org

Connect with ESO on social media

Este texto é a tradução da Nota de Imprensa do ESO eso1607, cortesia do ESON, uma rede de pessoas nos Países Membros do ESO, que servem como pontos de contacto local com os meios de comunicação social, em ligação com os desenvolvimentos do ESO. A representante do nodo português é Margarida Serote.

Sobre a Nota de Imprensa

Nº da Notícia:eso1607pt
Nome:RCW 106
Tipo:Milky Way : Star : Type : Wolf-Rayet
Milky Way : Nebula : Type : Star Formation
Milky Way : Nebula : Type : Supernova Remnant
Facility:VLT Survey Telescope
Instrumentos:OmegaCAM

Imagens

O céu em torno da região de formação estelar RCW 106
O céu em torno da região de formação estelar RCW 106
O céu em torno da região de formação estelar RCW 106 (imagem de grande angular)
O céu em torno da região de formação estelar RCW 106 (imagem de grande angular)
O céu em torno da região de formação estelar RCW 106 (anotada)
O céu em torno da região de formação estelar RCW 106 (anotada)
A região de formação estelar RCW 106 na constelação da Régua
A região de formação estelar RCW 106 na constelação da Régua

Vídeos

Panorâmica do céu em torno da região de formação estelar RCW 106
Panorâmica do céu em torno da região de formação estelar RCW 106