Nota de Imprensa

Vapores de metais pesados encontrados inesperadamente em cometas do nosso Sistema Solar — e para além dele

19 de Maio de 2021

Um novo estudo levado a cabo por uma equipa belga com dados do Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO) mostrou que existe ferro e níquel nas atmosferas de cometas do Sistema Solar, mesmo nos que se encontram muito afastados do Sol. Um estudo independente de uma equipa polaca, que também usou dados do ESO, anunciou que existe também vapor de níquel no cometa interestelar gelado 2I/Borisov. Esta é a primeira vez que metais pesados, geralmente associados com ambientes quentes, são descobertos nas atmosferas frias de cometas distantes.

Foi bastante surpreendente detectar ferro e níquel na atmosfera de todos os cometas que observámos nas duas últimas décadas, cerca de 20 objetos, inclusivamente nos que se encontram no meio espacial frio mais afastado do Sol,” disse Jean Manfroid da Universidade de Liège, na Bélgica, que liderou o novo estudo sobre cometas do Sistema Solar, publicado hoje na revista Nature.

Os astrónomos sabiam já da existência de metais pesados no interior rochoso e poeirento dos cometas. Mas, uma vez que os metais sólidos não sublimam a temperaturas baixas, ou seja, não se tornam gasosos, não se esperava encontrá-los nas atmosferas de cometas frios que viajam muito para além do Sol. Vapores de níquel e ferro foram agora detectados em cometas observados a mais de 480 milhões de quilómetros do Sol, o que corresponde a mais de três vezes a distância Terra-Sol.

A equipa belga descobriu ferro e níquel nas atmosferas dos cometas em quantidades aproximadamente iguais. O material do nosso Sistema Solar, por exemplo o encontrado no Sol e em meteoritos, contém normalmente cerca de dez vezes mais ferro do que níquel. Este novo resultado tem por isso implicações na nossa compreensão do Sistema Solar primordial, apesar da equipa ainda estar a estudar o que é que isto significará.

Os cometas formaram-se há cerca de 4,6 mil milhões de anos num Sistema Solar muito jovem, não tendo sofrido alterações desde essa época. Nesse sentido, são como fósseis para os astrónomos,” explica o co-autor deste trabalho Emmanuel Jehin, também da Universidade de Liège.

Apesar de estudar estes “fósseis” do Sistema Solar com o VLT do ESO há quase 20 anos, a equipa belga não tinha ainda detectado a presença de níquel e ferro nas suas atmosferas. “Esta descoberta escapou-nos durante muitos anos,” diz Jehin.

A equipa utilizou dados do instrumento UVES (Ultraviolet and Visual Echelle Spectrograph) montado no VLT, capturados com uma técnica chamada espectroscopia, para analisar as atmosferas de cometas a diferentes distâncias do Sol. Esta técnica permite revelar a composição química de objetos cósmicos: cada elemento químico apresenta uma assinatura única — um conjunto de riscas — no espectro de luz do objeto.

A equipa belga detectou riscas espectrais fracas não identificadas nos dados do UVES e após uma análise mais cuidada verificou que estas riscas assinalam a presença de átomos de ferro e níquel. A razão pela qual os elementos pesados foram difíceis de identificar deve-se à sua existência em quantidades muito pequenas: a equipa estima que, para cada 100 quilogramas de água, exista apenas 1 grama de ferro, e a mesma quantidade de níquel, nas atmosferas dos cometas.

Geralmente temos 10 vezes mais ferro que níquel, mas nas atmosferas destes cometas descobrimos aproximadamente a mesma quantidade de ambos os elementos. Pensamos que estes elementos possam vir de um tipo especial de material existente na superfície do núcleo do cometa, que sublima a temperaturas bastante baixas e liberta ferro e níquel em proporções essencialmente iguais,” explica Damien Hutsemékers, também membro da equipa belga da Universidade de Liège.

Apesar da equipa não ter ainda a certeza de que material se tratará, avanços na astronomia — tais como o instrumento METIS (Mid-infrared ELT Imager and Spectrograph) previsto para o futuro Extremely Large Telescope (ELT) — permitirão aos investigadores confirmar a fonte de átomos de ferro e níquel descobertos nas atmosferas destes cometas.

A equipa belga espera que este seu estudo possa abrir caminho para trabalho futuro. “Agora as pessoas procurarão estas riscas nos seus dados de arquivo de outros telescópios,” diz Jehin. “Penso que isto dará também origem a novos trabalhos nesta área.

Metais pesados interestelares

Outro estudo notável publicado hoje na Nature mostra que elementos pesados também estão presentes na atmosfera do cometa interestelar 2I/Borisov. Com o auxílio do espectrógrafo X-shooter montado no VLT do ESO, uma equipa na Polónia observou este objeto, o primeiro cometa alienígena a visitar o nosso Sistema Solar, na altura em que este passou perto de nós, há cerca de ano e meio. A equipa descobriu que a atmosfera fria do 2I/Borisov contém níquel gasoso.

Inicialmente, não queríamos acreditar na presença de níquel atómico no 2I/Borisov, tão longe do Sol! Tivemos que realizar testes numerosos e muitas verificações para finalmente nos convencermos de que assim era,” disse Piotr Guzik da Universidade de Jagiellonian na Polónia, um dos autores deste estudo. Esta descoberta é surpreendente porque, antes dos dois trabalhos publicados hoje, gases com átomos de elementos pesados apenas tinham sido observados em meios quentes, tais como nas atmosferas de exoplanetas ultra-quentes e em cometas em evaporação que passam muito perto do Sol. O 2I/Borisov foi observado quando estava a cerca de 300 milhões de km do Sol ou seja, a cerca de duas vezes a distância Terra-Sol.

O estudo detalhado de corpos interestelares é fundamental porque nos fornece informações importantes sobre os sistemas planetários alienígenas que lhes deram origem. “De repente, compreendemos que existe níquel gasoso em atmosferas planetárias noutros cantos da Galáxia!” diz o co-autor deste estudo Michał Drahus, também da Universidade de Jagiellonian. 

Os estudos levados a cabo por estas duas equipas mostram que o 2I/Borisov e os cometas do Sistema Solar têm ainda mais a ver uns com os outros do que o que pensávamos anteriormente. “Agora imaginem que os cometas do nosso Sistema Solar têm verdadeiros corpos análogos noutros sistemas planetários — não era tão fixe?” conclui Drahus.

Informações adicionais

Estes trabalhos de investigação foram apresentados em dois artigos científicos publicados na revista Nature.

A equipa que levou a cabo o estudo “Iron and nickel atoms in cometary atmospheres even far from the Sun“ (https://doi.org/10.1038/s41586-021-03435-0) é composta por J. Manfroid, D. Hutsemékers & E. Jehin (STAR Institute, Universidade de Liège, Bélgica).

A equipa que trabalhou sobre “Gaseous atomic nickel in the coma of interstellar comet 2I/Borisov” é composta por Piotr Guzik e Michał Drahus (Observatório Astronómico, Universidade de Jagiellonian, Cracóvia, Polónia).

O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é de longe o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO tem 16 Estados Membros: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça, para além do país de acolhimento, o Chile, e a Austrália, um parceiro estratégico. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e operação de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera  o Very Large Telescope e o Interferómetro do Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo, para além de dois telescópios de rastreio: o VISTA, que trabalha no infravermelho, e o VLT Survey Telescope, concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é também um parceiro principal em duas infraestruturas situadas no Chajnantor, o APEX e o ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. E no Cerro Armazones, próximo do Paranal, o ESO está a construir o Extremely Large Telescope (ELT) de 39 metros, que será “o maior olho do mundo virado para o céu”.

Links

Contactos

Jean Manfroid
STAR Institute, University of Liège
Liège, Belgium
Tel: +32 4 366 97 25
Email: jmanfroid@gmail.com

Damien Hutsemékers
STAR Institute, University of Liège
Liège, Belgium
Email: D.Hutsemekers@uliege.be

Emmanuel Jehin
STAR Institute, University of Liège
Liège, Belgium
Tel: +32 470 850 172
Email: ejehin@uliege.be

Piotr Guzik
Astronomical Observatory, Jagiellonian University
Krakow, Poland
Tel: +48-126-238-627
Telm: +48-791-223-196
Email: piotr.guzik@doctoral.uj.edu.pl

Michał Drahus
Astronomical Observatory, Jagiellonian University
Krakow, Poland
Tel: +48-126-238-627
Telm: +48-578-221-628
Email: drahus@oa.uj.edu.pl

Bárbara Ferreira
ESO Media Manager
Garching bei München, Germany
Tel: +49 89 3200 6670
Telm: +49 151 241 664 00
Email: press@eso.org

Margarida Serote (Contacto de imprensa em Portugal)
Rede de Divulgação Científica do ESO e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço,
Tel: +351 964951692
Email: eson-portugal@eso.org

Connect with ESO on social media

Este texto é a tradução da Nota de Imprensa do ESO eso2108, cortesia do ESON, uma rede de pessoas nos Países Membros do ESO, que servem como pontos de contacto local com os meios de comunicação social, em ligação com os desenvolvimentos do ESO. A representante do nodo português é Margarida Serote.

Sobre a Nota de Imprensa

Nº da Notícia:eso2108pt
Nome:2I/Borisov, C/2016 R2 (PANSTARRS), Comet
Tipo:Solar System : Interplanetary Body : Comet
Milky Way : Interplanetary Body : Comet
Facility:Very Large Telescope
Instrumentos:UVES, X-shooter
Science data:2021Natur.593..375G
2021Natur.593..372M

Imagens

Detecção de metais pesados na atmosfera do cometa C/2016 R2
Detecção de metais pesados na atmosfera do cometa C/2016 R2
Detecção de níquel na atmosfera do cometa interestelar 2I/Borisov
Detecção de níquel na atmosfera do cometa interestelar 2I/Borisov
Era uma vez, num cometa azul...
Era uma vez, num cometa azul...
O cometa interestelar 2I/Borisov capturado pelo VLT
O cometa interestelar 2I/Borisov capturado pelo VLT

Vídeos

Animação artística da composição em metais pesados duma atmosfera cometária
Animação artística da composição em metais pesados duma atmosfera cometária
Animação artística de um cometa
Animação artística de um cometa
Variações na cauda do cometa C/2016 R2 (PANSTARRS)
Variações na cauda do cometa C/2016 R2 (PANSTARRS)
Animação artística da superfície do cometa interestelar 2I/Borisov
Animação artística da superfície do cometa interestelar 2I/Borisov

Our use of Cookies

We use cookies that are essential for accessing our websites and using our services. We also use cookies to analyse, measure and improve our websites’ performance, to enable content sharing via social media and to display media content hosted on third-party platforms.

You can manage your cookie preferences and find out more by visiting 'Cookie Settings and Policy'.

ESO Cookies Policy


The European Organisation for Astronomical Research in the Southern Hemisphere (ESO) is the pre-eminent intergovernmental science and technology organisation in astronomy. It carries out an ambitious programme focused on the design, construction and operation of powerful ground-based observing facilities for astronomy.

This Cookies Policy is intended to provide clarity by outlining the cookies used on the ESO public websites, their functions, the options you have for controlling them, and the ways you can contact us for additional details.

What are cookies?

Cookies are small pieces of data stored on your device by websites you visit. They serve various purposes, such as remembering login credentials and preferences and enhance your browsing experience.

Categories of cookies we use

Essential cookies (always active): These cookies are strictly necessary for the proper functioning of our website. Without these cookies, the website cannot operate correctly, and certain services, such as logging in or accessing secure areas, may not be available; because they are essential for the website’s operation, they cannot be disabled.

Cookie ID/Name
Description/Purpose
Provider (1st party or 3rd party)
Browser session cookie or Stored cookie?
Duration
csrftoken
XSRF protection token. We use this cookie to protect against cross-site request forgery attacks.
1st party
Stored
1 year
user_privacy
Your privacy choices. We use this cookie to save your privacy preferences.
1st party
Stored
6 months
_grecaptcha
We use reCAPTCHA to protect our forms against spam and abuse. reCAPTCHA sets a necessary cookie when executed for the purpose of providing its risk analysis. We use www.recaptcha.net instead of www.google.com in order to avoid unnecessary cookies from Google.
3rd party
Stored
6 months

Functional Cookies: These cookies enhance your browsing experience by enabling additional features and personalization, such as remembering your preferences and settings. While not strictly necessary for the website to function, they improve usability and convenience; these cookies are only placed if you provide your consent.

Cookie ID/Name
Description/Purpose
Provider (1st party or 3rd party)
Browser session cookie or Stored cookie?
Duration
Settings
preferred_language
Language settings. We use this cookie to remember your preferred language settings.
1st party
Stored
1 year
ON | OFF
sessionid
ESO Shop. We use this cookie to store your session information on the ESO Shop. This is just an identifier which is used on the server in order to allow you to purchase items in our shop.
1st party
Stored
2 weeks
ON | OFF

Analytics cookies: These cookies collect information about how visitors interact with our website, such as which pages are visited most often and how users navigate the site. This data helps us improve website performance, optimize content, and enhance the user experience; these cookies are only placed if you provide your consent. We use the following analytics cookies.

Matomo Cookies:

This website uses Matomo (formerly Piwik), an open source software which enables the statistical analysis of website visits. Matomo uses cookies (text files) which are saved on your computer and which allow us to analyze how you use our website. The website user information generated by the cookies will only be saved on the servers of our IT Department. We use this information to analyze www.eso.org visits and to prepare reports on website activities. These data will not be disclosed to third parties.

On behalf of ESO, Matomo will use this information for the purpose of evaluating your use of the website, compiling reports on website activity and providing other services relating to website activity and internet usage.

ON | OFF

Matomo cookies settings:

Cookie ID/Name
Description/Purpose
Provider (1st party or 3rd party)
Browser session cookie or Stored cookie?
Duration
Settings
_pk_id
Stores a unique visitor ID.
1st party
Stored
13 months
_pk_ses
Session cookie temporarily stores data for the visit.
1st party
Stored
30 minutes
_pk_ref
Stores attribution information (the referrer that brought the visitor to the website).
1st party
Stored
6 months
_pk_testcookie
Temporary cookie to check if a visitor’s browser supports cookies (set in Internet Explorer only).
1st party
Stored
Temporary cookie that expires almost immediately after being set.

Additional Third-party cookies on ESO websites: some of our pages display content from external providers, e.g. YouTube.

Such third-party services are outside of ESO control and may, at any time, change their terms of service, use of cookies, etc.

YouTube: Some videos on the ESO website are embedded from ESO’s official YouTube channel. We have enabled YouTube’s privacy-enhanced mode, meaning that no cookies are set unless the user actively clicks on the video to play it. Additionally, in this mode, YouTube does not store any personally identifiable cookie data for embedded video playbacks. For more details, please refer to YouTube’s embedding videos information page.

Cookies can also be classified based on the following elements.

Regarding the domain, there are:

  • First-party cookies, set by the website you are currently visiting. They are stored by the same domain that you are browsing and are used to enhance your experience on that site;
  • Third-party cookies, set by a domain other than the one you are currently visiting.

As for their duration, cookies can be:

  • Browser-session cookies, which are deleted when the user closes the browser;
  • Stored cookies, which stay on the user's device for a predetermined period of time.

How to manage cookies

Cookie settings: You can modify your cookie choices for the ESO webpages at any time by clicking on the link Cookie settings at the bottom of any page.

In your browser: If you wish to delete cookies or instruct your browser to delete or block cookies by default, please visit the help pages of your browser:

Please be aware that if you delete or decline cookies, certain functionalities of our website may be not be available and your browsing experience may be affected.

You can set most browsers to prevent any cookies being placed on your device, but you may then have to manually adjust some preferences every time you visit a site/page. And some services and functionalities may not work properly at all (e.g. profile logging-in, shop check out).

Updates to the ESO Cookies Policy

The ESO Cookies Policy may be subject to future updates, which will be made available on this page.

Additional information

For any queries related to cookies, please contact: pdprATesoDOTorg.

As ESO public webpages are managed by our Department of Communication, your questions will be dealt with the support of the said Department.