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Novo relatório apresenta plano para mitigar os efeitos das constelações de satélites na astronomia

25 de Agosto de 2020

Acaba de ser apresentado, por uma equipa internacional de especialistas, incluindo investigadores do ESO, um novo relatório que explora medidas práticas para combater o impacto das grandes constelações de satélites na astronomia. O relatório conclui que as grandes constelações de satélites brilhantes colocadas em órbitas terrestres baixas irão alterar de forma fundamental a astronomia óptica e infravermelha realizada a partir do solo, podendo igualmente ter um impacto importante na aparência do céu noturno para os observadores de todo mundo. Este relatório fornece também um plano de ação a ser trabalhado em conjunto entre observatórios e operadores de satélites de forma a mitigar estes impactos.

O relatório apresenta dois resultados principais. Primeiro, os satélites em órbitas terrestres baixas afectam de forma desproporcionada os programas científicos que dependem de observações feitas durante o crepúspulo, tais como a procura de asteroides que possam ameaçar a Terra ou de contrapartes visíveis de fontes de ondas gravitacionais passageiras. Os satélites que orbitam abaixo dos 600 km de altitude interferem de forma limitada nas observações astronómicas executadas durante as horas mais escuras da noite. No entanto, os satélites colocados a altitudes mais altas, tais como a constelação planeada pela OneWeb para 1200 km de altitude, podem estar iluminados toda a noite durante o verão e grande parte da noite nas outras estações. Estas constelações poderão ter sérias consequências negativas em muitos programas de investigação dos observatórios ópticos líder mundiais. Dependendo da sua altitude e brilho, as constelações de satélites poderão ainda afectar a visão do céu estrelado dos astrofotógrafos, astrónomos amadores e outros entusiastas da natureza.

Segundo, o relatório oferece várias maneiras de mitigar os efeitos nefastos das grandes constelações de satélites na astronomia: os operatores poderiam lançar menos satélites, colocá-los a altitudes abaixo dos 600 km, escurecer as sondas espaciais, ou usar guarda-sóis que façam sombra nas superfícies refletoras, e controlar a altitude de cada satélite para que este reflita menos luz solar para a Terra. A comunidade astronómica, por seu lado, poderia contribuir para estes esforços de mitigação ajudando os operadores a identificar limites mais baixos para o brilho dos satélites e a calcular quão efetivos poderão ser os diferentes modos de diminuir o brilho destes objetos. O relatório recomenda ainda que os observatórios apoiem o desenvolvimento de ferramentas que removam ou mascarem os rastros dos satélites e os seus efeitos nas imagens astronómicas e que calculem as trajectórias dos satélites, evitando-se assim os seus rastros. O ESO, juntamente com outros observatórios, encontra-se a aferir os custos destes esforços de mitigação.

O relatório é o resultado do workshop virtual SATCON1, organizado pelo NOIRLab, um centro de astronomia da Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos da América e da Sociedade Astronómica Americana. De 29 de Junho a 2 de Julho, o workshop juntou mais de 250 cientistas, engenheiros, operadores de satélites e outros investidores, que debateram os impactos das mega-constelações e exploraram várias maneiras de os mitigar. Os especialistas do ESO Olivier Hainaut, Andrew Williams e Angel Otarola participaram no workshop, fazendo parte da lista de autores do novo relatório.

No início deste ano, e no seguimento de preocupações levantadas pela comunidade astrónomica de como é que as constelações de satélites iriam afectar a investigação científica, o ESO divulgou um estudo, de Hainaut e Williams, sobre este impacto, o qual se focava essencialmente nas observações levadas a cabo pelos telescópios do ESO no visível e infravermelho. Foram consideradas um total de 18 constelações de satélites representativas, a serem desenvolvidas pela SpaceX, Amazon e OneWeb, entre outros, e chegou-se à conclusão que os grandes telescópios, tais como o Very Large Telescope do ESO e o futuro Extremely Large Telescope do ESO seriam "moderadamente afectados" por estas constelações. O estudo, que também explorou o impacto em infraestruturas que não do ESO, revelou que o maior impacto poderia ser nos rastreios de campo alargado, em particular os levados a cabo por telescópios grandes, como o Observatório Vera C. Rubin do NOIRLab.

Hainaut e Williams, juntamente com Otarola (que trabalhava antes no Thirty-Meter International Observatory), contribuiram para este novo relatório com simulações detalhadas, que sumariam os impactos nas infraestruturas do ESO, e participaram também nos grupos de trabalho reunidos para escrever o relatório. O telescópio VISTA do ESO foi utilizado para observar os satélites Starlink, ajudando assim às simulações. Dispor de simulações detalhadas de constelações de satélites é importante pois permite, no futuro, efectuar rapidamente cálculos de impacto, ajudando a criar ferramentas para que os operadores de telescópio possam marcar as observações de modo a evitar os rastros dos satélites. O reagendamento de observações para além de não evitar todos os impactos, apoia-se em informações precisas dadas pelas companhias de satélites, no entanto poderá minimizar os efeitos.

O ESO continuará a trabalhar ativamente com a comunidade astronómica internacional no sentido de compreender melhor os impactos das megas constelações de satélites e desenvolver soluções em parceria com a indústria e as agências governamentais. A SATCON2, que tratará de assuntos importantes relativos a política e regulamentação, está planeada para meados de 2021.

Mais Informações

O relatório intitulado “Impact of Satellite Constellations on Optical Astronomy and Recommendations toward Mitigations”, foi apresentado à Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos da América e publicado hoje, dia 25 de Agosto de 2020.

A equipa é composta por ​C. Walker (NOIRLab, EUA), J. ​Hall (Lowell Observatory, EUA), L. Allen (NOIRLab, EUA), ​R. Green (University of Arizona, EUA), ​P. ​Seitzer (University of Michigan, EUA), ​A. Tyson (University of California, Davis, Vera C. Rubin Observatory, EUA), A. ​Bauer (Vera C. Rubin Observatory, EUA), ​​K. Krafton (American Astronomical Society [AAS], EUA), ​J. ​Lowenthal (Smith College, EUA), ​J. ​Parriott (AAS, EUA), ​P. ​Puxley (Association of Universities for Research in Astronomy [AURA], EUA), T. Abbott (NOIRLab, EUA), ​G. Bakos (Princeton University, EUA), ​J. ​Barentine (The International Dark-Sky Association [IDA], EUA), ​C. ​Bassa (ASTRON, Holanda), J. ​Blakeslee (Gemini Observatory, EUA), A. ​Bradshaw (SLAC, EUA), J. ​​Cooke (Swinburne University, Austrália), ​D. ​Devost (Canada-France-Hawaii Telescope, EUA), D. ​​Galadí (Grupo de trabalho Icosaedro da Sociedade Espanhola de Astronomia, Espanha), F. ​​Haase (NOIRLab, EUA), O. ​Hainaut (Observatório Europeu do Sul [ESO], Alemanha), ​S. ​Heathcote (NOIRLab, EUA), M. ​Jah (University of Texas at Austin, EUA), ​H. ​Krantz (University of Arizona, EUA), ​D. ​Kucharski (University of Texas at Austin, EUA), J. ​McDowell (CfA, EUA), P. ​​Mróz (Caltech, EUA), A. ​​Otarola (ESO, Chile), ​E. ​Pearce (University of Arizona, EUA), ​M. ​Rawls (University of Washington, Vera C. Rubin Observatory, EUA), C. Saunders (Princeton University, EUA), ​R. ​Seaman (​Catalina Sky Survey, EUA), J. ​​Siminski (ESA SpaceDebris Office, EUA), ​A. Snyder (Stanford University, EUA), L. ​Storrie-Lombardi (​Las Cumbres Observatory, EUA), ​J. ​Tregloan-Reed (Universidade de Antofagasta, Chile), ​R. ​Wainscoat (University of Hawaii, EUA), A. ​Williams (ESO, Alemanha), ​P. ​Yoachim (University of Washington, Vera C. Rubin Observatory, EUA).

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Olivier R. Hainaut
ESO Astronomer
Garching bei München, Alemanha
Tel: +49 89 3200 6752
Telm: +49 151 2262 0554
Email: ohainaut@eso.org

Andrew Williams
ESO External Relations Officer
Garching bei München, Alemanha
Tel: +49 89 320 062 78
Email: awilliam@eso.org

Angel Otarola
ESO Atmosphere Scientist
ESO La Silla Paranal Observatory, Chile
Tel: +56 55243 5311
Email: angel.otarola@eso.org 

Bárbara Ferreira
ESO Public Information Officer
Garching bei München, Alemanha
Tel: +49 89 3200 6670
Email: pio@eso.org

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