Nota de Imprensa
Telescópio do ESO captura variações surpreendentes nas temperaturas de Neptuno
11 de Abril de 2022
Com o auxílio de vários telescópios terrestres, incluindo o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), uma equipa internacional de astrónomos analisou as temperaturas atmosféricas de Neptuno durante um período de 17 anos e descobriu que existe uma diminuição surpreendente nas temperaturas globais do planeta seguida de um aquecimento drástico do seu pólo sul.
“Estas variações são inesperadas,” disse Michael Roman, um investigador em pós-doutoramento na Universidade de Leicester, Reino Unido, e autor principal do estudo publicado hoje na revista da especialidade The Planetary Science Journal. “Estamos a observar Neptuno desde o início do seu verão austral e esperávamos que as temperaturas fossem gradualmente subindo e não descendo.”
Tal como na Terra, existem estações em Neptuno à medida que o planeta orbita em torno do Sol, com a diferença de que uma estação em Neptuno dura cerca de 40 anos terrestres e um ano tem uma duração de 165 anos terrestres. É verão no hemisfério sul do Neptuno desde 2005 e os astrónomos estavam desejando de ver como é que as temperaturas variavam a seguir ao solstício do verão austral.
Os astrónomos analisaram quase uma centena de imagens infravermelhas térmicas de Neptuno, capturadas durante um período de 17 anos, para compreenderem as tendências gerais na temperatura do planeta com mais detalhe do que o conseguido até à data.
Os dados mostraram que, apesar do começo do verão austral, a maioria do planeta tem vindo a arrefecer gradualmente nas últimas duas décadas. A temperatura média global de Neptuno desceu 8º C entre 2003 e 2018.
Os astrónomos ficaram também surpreendidos ao descobrir um aquecimento drástico no pólo sul de Neptuno nos últimos dois anos, altura em que as temperaturas subiram rapidamente, ou seja, 11º C entre 2018 e 2020. Apesar do vórtice polar quente de Neptuno ser já conhecido desde há muitos anos, nunca tinha sido observado anteriormente um aquecimento polar tão rápido.
“Os nossos dados cobrem menos de metade de uma estação de Neptuno e por isso não estávamos nada à espera de encontrar variações tão grandes e rápidas,” disse o co-autor Glenn Orton, investigador no Jet Propulsion Laboratory (JPL), Caltech, nos EUA.
Os astrónomos mediram a temperatura de Neptuno com o auxílio de câmaras térmicas, instrumentos que medem a radiação infravermelha emitida por objetos astronómicos. Para a sua análise, a equipa combinou todas as imagens de Neptuno que foram capturadas por telescópios terrestres ao longo das últimas duas décadas. Os astrónomos analisaram a radiação infravermelha emitida por uma camada da atmosfera de Neptuno chamada estratosfera, o que lhes permitiu traçar um quadro da temperatura de Neptuno e suas variações durante parte do seu verão austral.
Uma vez que Neptuno se encontra a cerca de 4,5 mil milhões de km de distância e é muito frio — sendo que a temperatura média do planeta pode chegar a cerca de -220º C — medir a sua temperatura a partir da Terra é extremamente complicado. “Este tipo de estudo só é possível graças a imagens infravermelhas sensíveis obtidas por grandes telescópios tais como o VLT, que consegue observar Neptuno muito nitidamente, mas este tipo de telescópios só se tornaram disponíveis mais ou menos nos últimos 20 anos,” disse o co-autor Leigh Fletcher, professor na Universidade de Leicester.
Cerca de um terço de todas as imagens foram obtidas pelo instrumento VISIR (VLT Imager and Spectrometer for mid-InfraRed) montado no VLT do ESO, no deserto chileno do Atacama. Devido ao tamanho do espelho do telescópio e à altitude, as imagens têm uma resolução muito elevada e uma grande qualidade, sendo as imagens mais nítidas de Neptuno alguma vez obtidas. A equipa utilizou também dados do Telescópio Espacial Spitzer da NASA e imagens obtidas com o telescópio sul Gemini no Chile, assim como dos Telescópios Subaru, Keck e telescópio norte Gemini, todos instalados no Hawai.
Como as variações da temperatura de Neptuno são tão inesperadas, os astrónomos não sabem ainda qual a sua origem. Poderão ser devidas a variações na química estratosférica de Neptuno, ou padrões climáticos aleatórios ou até ao ciclo solar. Serão necessárias mais observações durante os próximos anos para explorar as razões destas flutuações. Telescópios terrestres futuros, tais como o Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, poderão observar variações de temperatura como estas com maior detalhe, enquanto o Telescópio Espacial James Webb das NASA/ESA/CSA fornecerá novos mapas das temperaturas e da química da atmosfera de Neptuno.
“Acho Neptuno muito intrigante porque, na realidade, sabemos ainda muito pouco sobre ele,” diz Roman. “Estes resultados apontam para um quadro bastante complexo da atmosfera de Neptuno e das suas variações com o tempo.”
Informações adicionais
Este trabalho de investigação foi descrito num artigo científico intitulado “Sub-Seasonal Variation in Neptune’s Mid-Infrared Emission” publicado hoje na revista da especialidade The Planetary Science Journal (doi:10.3847/PSJ/ac5aa4).
A equipa é composta por M. T. Roman e L. N. Fletcher (School of Physics and Astronomy, University of Leicester, Reino Unido), G. S. Orton (Jet Propulsion Laboratory/California Institute of Technology, California, EUA), T. K. Greathouse (Southwest Research Institute, San Antonio, TX, USA), J. I. Moses (Space Science Institute, Boulder, CO, EUA), N. Rowe-Gurney (Department of Physics and Astronomy, Howard University, Washington DC, EUA; Astrochemistry Laboratory, NASA/GSFC, Greenbelt, MD, EUA; Center for Research and Exploration in Space Science and Technology, NASA/GSFC, Greenbelt, MD, EUA), P. G. J. Irwin (University of Oxford Atmospheric, Oceanic, and Planetary Physics, Department of Physics Clarendon Laboratory, Oxford, Reino Unido), A. Antuñano (UPV/EHU, Escuela Ingernieria de Bilbao, Espanha), J. Sinclair (Jet Propulsion Laboratory/California Institute of Technology, California, EUA), Y. Kasaba (Planetary Plasma and Atmospheric Research Center, Graduate School of Science, Universidade de Tohoku, Japão), T. Fujiyoshi (Subaru Telescope, National Astronomical Observatory of Japan, HI, EUA), I. de Pater (Department of Astronomy, University of California at Berkeley, CA, EUA) e H. B. Hammel (Association of Universities for Research in Astronomy, Washington DC, EUA).
O Observatório Europeu do Sul (ESO) ajuda cientistas de todo o mundo a descobrir os segredos do Universo, o que, consequentemente, beneficia toda a sociedade. No ESO concebemos, construimos e operamos observatórios terrestres de vanguarda — os quais são usados pelos astrónomos para investigar as maiores questões astronómicas da nossa época e levar ao público o fascínio da astronomia — e promovemos colaborações internacionais em astronomia. Estabelecido como uma organização intergovernamental em 1962, o ESO é hoje apoiado por 16 Estados Membros (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Países Baixos, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça), para além do Chile, o país de acolhimento, e da Austrália como Parceiro Estratégico. A Sede do ESO e o seu centro de visitantes e planetário, o Supernova do ESO, situam-se perto de Munique, na Alemanha, enquanto o deserto chileno do Atacama, um lugar extraordinário com condições únicas para a observação dos céus, acolhe os nossos telescópios. O ESO mantém em funcionamento três observatórios: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope e o Interferómetro do Very Large Telescope, assim como dois telescópios de rastreio: o VISTA, que trabalha no infravermelho, e o VLT Survey Telescope, concebido para mapear o céu no visível. Ainda no Paranal, o ESO acolherá e operará o Cherenkov Telescope Array South, o maior e mais sensível observatório de raios gama do mundo. Juntamente com parceiros internacionais, o ESO opera o APEX e o ALMA no Chajnantor, duas infraestruturas que observam o céu no domínio do milímetro e do submilímetro. No Cerro Armazones, próximo do Paranal, estamos a construir “o maior olho do mundo voltado para o céu” — o Extremely Large Telescope do ESO. Dos nossos gabinetes em Santiago do Chile, apoiamos as nossas operações no país e trabalhamos com parceiros chilenos e com a sociedade chilena.
Links
- Artigo científico
- Fotografias do VLT
- Saiba mais sobre o Extremely Large Telescope do ESO
- Para jornalistas: subscreva-se para receber as nossas notas de imprensa sob embargo em português
- Para cientistas: tem uma estória para nos contar? Fale-nos do seu trabalho de investigação
Contactos
Michael Roman
School of Physics and Astronomy, University of Leicester
Leicester, UK
Email: m.t.roman@leicester.ac.uk
Glenn Orton
Caltech’s Jet Propulsion Laboratory (JPL)
Pasadena, California, US
Email: glenn.s.orton@jpl.nasa.gov
Leigh Fletcher
School of Physics and Astronomy, University of Leicester
Leicester, UK
Tel: + 44 (0)116 252 3585
Email: leigh.fletcher@le.ac.uk
Bárbara Ferreira
ESO Media Manager
Garching bei München, Germany
Tel: +49 89 3200 6670
Telm: +49 151 241 664 0
Email: press@eso.org
Margarida Serote (Contacto de imprensa em Portugal)
Rede de Divulgação Científica do ESO
e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço,
Tel: +351 964951692
Email: eson-portugal@eso.org
Sobre a Nota de Imprensa
Nº da Notícia: | eso2206pt |
Nome: | Neptune |
Tipo: | Solar System : Planet : Feature : Atmosphere |
Facility: | Very Large Telescope |
Instrumentos: | VISIR |
Science data: | 2022PSJ.....3...78R |
Our use of Cookies
We use cookies that are essential for accessing our websites and using our services. We also use cookies to analyse, measure and improve our websites’ performance, to enable content sharing via social media and to display media content hosted on third-party platforms.
ESO Cookies Policy
The European Organisation for Astronomical Research in the Southern Hemisphere (ESO) is the pre-eminent intergovernmental science and technology organisation in astronomy. It carries out an ambitious programme focused on the design, construction and operation of powerful ground-based observing facilities for astronomy.
This Cookies Policy is intended to provide clarity by outlining the cookies used on the ESO public websites, their functions, the options you have for controlling them, and the ways you can contact us for additional details.
What are cookies?
Cookies are small pieces of data stored on your device by websites you visit. They serve various purposes, such as remembering login credentials and preferences and enhance your browsing experience.
Categories of cookies we use
Essential cookies (always active): These cookies are strictly necessary for the proper functioning of our website. Without these cookies, the website cannot operate correctly, and certain services, such as logging in or accessing secure areas, may not be available; because they are essential for the website’s operation, they cannot be disabled.
Functional Cookies: These cookies enhance your browsing experience by enabling additional features and personalization, such as remembering your preferences and settings. While not strictly necessary for the website to function, they improve usability and convenience; these cookies are only placed if you provide your consent.
Analytics cookies: These cookies collect information about how visitors interact with our website, such as which pages are visited most often and how users navigate the site. This data helps us improve website performance, optimize content, and enhance the user experience; these cookies are only placed if you provide your consent. We use the following analytics cookies.
Matomo Cookies:
This website uses Matomo (formerly Piwik), an open source software which enables the statistical analysis of website visits. Matomo uses cookies (text files) which are saved on your computer and which allow us to analyze how you use our website. The website user information generated by the cookies will only be saved on the servers of our IT Department. We use this information to analyze www.eso.org visits and to prepare reports on website activities. These data will not be disclosed to third parties.
On behalf of ESO, Matomo will use this information for the purpose of evaluating your use of the website, compiling reports on website activity and providing other services relating to website activity and internet usage.
Matomo cookies settings:
Additional Third-party cookies on ESO websites: some of our pages display content from external providers, e.g. YouTube.
Such third-party services are outside of ESO control and may, at any time, change their terms of service, use of cookies, etc.
YouTube: Some videos on the ESO website are embedded from ESO’s official YouTube channel. We have enabled YouTube’s privacy-enhanced mode, meaning that no cookies are set unless the user actively clicks on the video to play it. Additionally, in this mode, YouTube does not store any personally identifiable cookie data for embedded video playbacks. For more details, please refer to YouTube’s embedding videos information page.
Cookies can also be classified based on the following elements.
Regarding the domain, there are:
- First-party cookies, set by the website you are currently visiting. They are stored by the same domain that you are browsing and are used to enhance your experience on that site;
- Third-party cookies, set by a domain other than the one you are currently visiting.
As for their duration, cookies can be:
- Browser-session cookies, which are deleted when the user closes the browser;
- Stored cookies, which stay on the user's device for a predetermined period of time.
How to manage cookies
Cookie settings: You can modify your cookie choices for the ESO webpages at any time by clicking on the link Cookie settings at the bottom of any page.
In your browser: If you wish to delete cookies or instruct your browser to delete or block cookies by default, please visit the help pages of your browser:
Please be aware that if you delete or decline cookies, certain functionalities of our website may be not be available and your browsing experience may be affected.
You can set most browsers to prevent any cookies being placed on your device, but you may then have to manually adjust some preferences every time you visit a site/page. And some services and functionalities may not work properly at all (e.g. profile logging-in, shop check out).
Updates to the ESO Cookies Policy
The ESO Cookies Policy may be subject to future updates, which will be made available on this page.
Additional information
For any queries related to cookies, please contact: pdprATesoDOTorg.
As ESO public webpages are managed by our Department of Communication, your questions will be dealt with the support of the said Department.