Nota de Imprensa

Elegância elíptica

8 de Agosto de 2018

Um brilhante conjunto de galáxias povoa esta imagem obtida pelo Telescópio de Rastreio do VLT do ESO, um telescópio de vanguarda de 2,6 metros concebido para mapear o céu no visível. As características da multitude de galáxias que enche esta imagem permitem aos astrónomos revelar os detalhes mais delicados da estrutura galáctica.

Apesar do Very Large Telescope do ESO (VLT) poder observar objetos astronómicos muito ténues com grande detalhe, quando os astrónomos querem compreender o processo de formação da grande variedade de galáxias se existem, recorrem a um tipo de telescópio diferente com um campo de visão muito maior. O Telescópio de Rastreio do VLT (VST) é o telescópio perfeito, uma vez que foi concebido para explorar a enorme vastidão dos céus noturnos chilenos, fornecendo aos astrónomos rastreios astronómicos detalhados do hemisfério sul.

Com o auxílio das grandes capacidades do VST, uma equipa internacional de astrónomos levou a cabo o rastreio VEGAS (VST Early-type GAlaxy Survey, Rastreio de Galáxias Precoces com o VST) [1], com o objetivo de investigar uma coleção de galáxias elípticas no hemisfério sul [2]. Utilizando a OmegaCAM, o detector muito sensível situado no coração do VST [3], a equipa liderada por Marilena Spavone do INAF-Observatório Astronómico de Capodimonte em Nápoles, Itália, capturou imagens de uma grande variedade deste tipo de galáxias em diferentes meios.

Uma destas galáxias é a NGC 5018, a galáxia de um branco leitoso que se encontra próximo do centro da imagem. Este objeto situa-se na constelação da Virgem e à primeira vista pode não parecer mais do que uma mancha difusa. No entanto, após uma inspeção mais cuidada, podemos ver uma corrente ténue de estrelas e gás — uma cauda de maré — a estender-se em direção ao exterior desta galáxia elíptica. Estruturas galácticas delicadas, tais como caudas de maré e correntes estelares, são marcas de interações galácticas, fornecendo-nos pistas vitais sobre a estrutura e dinâmica das galáxias.

Para além de muitas galáxias elípticas, e de algumas espirais, podemos ver também, em primeiro plano nesta imagem notável de 400 milhões de pixels, uma variedade de estrelas coloridas brilhantes que pertencem à nossa Via Láctea. Estas intrusas estelares, tais como a HD 114746 de cor azul viva que se vê próximo do centro da imagem, não foram observadas intencionalmente, encontrando-se simplesmente entre a Terra e as galáxias distantes alvos deste estudo. Menos proeminentes, mas igualmente fascinantes, são os rastros ténues deixados pelos asteróides do nosso Sistema Solar. Mesmo por baixo da NGC 5018 podemos ver, estendendo-se ao longo da imagem, um traço fraco deixado pelo asteróide 2001 TJ21 (110423) e capturado ao longo de observações sucessivas. Mais para a direita, outro asteróide – 2000 WU69 (98603) — deixou também o seu rastro na imagem.

Apesar do objetivo dos astrónomos ter sido investigar as estruturas delicadas de galáxias distantes situadas a milhões de anos-luz de distância da Terra, no processo acabaram também por capturar imagens de estrelas próximas situadas a apenas centenas de anos-luz de distância e até rastros ténues de asteróides que se encontram a uns meros minutos-luz no nosso próprio Sistema Solar. Mesmo quando estudamos as regiões mais afastadas do cosmos, a sensibilidade dos telescópios do ESO e os límpidos céus noturnos chilenos juntam-se para nos oferecer observações fascinantes de objetos muito mais próximos de casa.

Notas

[1] VEGAS é um rastreio de imagens profundas multi-banda de galáxias do tipo precoce levado a cabo pelo Telescópio de Rastreio do VLT (VST) e liderado por Enrichetta Iodice do INAF-Observatório Astronómico de Capodimonte em Nápoles, Itália.

[2] As galáxias elípticas são também conhecidas por galáxias do tipo precoce, não devido à sua idade, mas porque antigamente se pensava que estes objetos evoluiriam para as mais familiares galáxias em espiral, uma ideia que se sabe agora ser falsa. As galáxias do tipo precoce são caracterizadas por uma forma elipsoidal suave e geralmente apresentam pouco gás e pouca formação estelar ativa. A impressionante diversidade de formas e tipos de galáxias encontra-se classificada na Sequência de Hubble.

[3] A OmegaCAM é um detector extremamente sensível formado por 32 CCD individuais que cria imagens com 256 milhões de pixels, ou seja 16 vezes maiores que as criadas pela câmara avançada para rastreios (ACS - Advanced Camera for Surveys), colocada a bordo do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA. A OmegaCAM foi concebida e construída por um consórcio que incluiu institutos na Holanda, Alemanha e Itália, com uma grande contribuição do ESO.

Informações adicionais

Este trabalho foi descrito num artigo científico intitulado “VEGAS: A VST Early-type GAlaxy Survey. III. Mapping the galaxy structure, interactions and intragroup light in the NGC 5018 group” de Marilena Spavone et al., que será publicado na revista da especialidade Astrophysical Journal.

A equipa é composta por Marilena Spavone (INAF-Observatório Astronómico de Capodimonte, Nápoles, Itália), Enrichetta Iodice (INAF-Observatório Astronómico de Capodimonte, Nápoles, Itália), Massimo Capaccioli (University of Naples, Naples, Italy), Daniela Bettoni (INAF-Observatório Astronómico de Pádua, Itália), Roberto Rampazzo (INAF-Observatório Astronómico de Pádua, Itália), Noah Brosch (The Wise Observatory and School of Physics and Astronomy Tel Aviv University, Israel), Michele Cantiello (INAF-Observatório Astronómico de Teramo, Itália), Nicola R. Napolitano (INAF-Observatório Astronómico de Capodimonte, Nápoles, Itália), Luca Limatola (INAF-Observatório Astronómico de Capodimonte, Nápoles, Itália), Aniello Grado (INAF-Observatório Astronómico de Capodimonte, Nápoles, Itália), Pietro Schipani (INAF-Observatório Astronómico de Capodimonte, Nápoles, Itália).

O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em astronomia e é de longe o observatório astronómico mais produtivo do mundo. O ESO tem 15 Estados Membros: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suíça, para além do país de acolhimento, o Chile, e a Austrália, um parceiro estratégico. O ESO destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado na concepção, construção e operação de observatórios astronómicos terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera  o Very Large Telescope e o Interferómetro do Very Large Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo, para além de dois telescópios de rastreio: o VISTA, que trabalha no infravermelho, e o VLT Survey Telescope, concebido exclusivamente para mapear os céus no visível. O ESO é também um parceiro principal em duas infraestruturas situadas no Chajnantor, o APEX e o ALMA, o maior projeto astronómico que existe atualmente. E no Cerro Armazones, próximo do Paranal, o ESO está a construir o Extremely Large Telescope (ELT) de 39 metros, que será “o maior olho do mundo virado para o céu”.

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Este texto é a tradução da Nota de Imprensa do ESO eso1827, cortesia do ESON, uma rede de pessoas nos Países Membros do ESO, que servem como pontos de contacto local com os meios de comunicação social, em ligação com os desenvolvimentos do ESO. A representante do nodo português é Margarida Serote.

Sobre a Nota de Imprensa

Nº da Notícia:eso1827pt
Nome:NGC 5018
Tipo:Early Universe : Galaxy : Type : Elliptical
Facility:VLT Survey Telescope
Instrumentos:OmegaCAM
Science data:2018ApJ...864..149S

Imagens

Elegância elíptica
Elegância elíptica
Imagem anotada do céu em torno da NGC 5018
Imagem anotada do céu em torno da NGC 5018
Imagem de grande angular do céu em torno da NGC 5018
Imagem de grande angular do céu em torno da NGC 5018
A NGC 5018 na constelação da Virgem
A NGC 5018 na constelação da Virgem
Imagem do Digitized Sky Survey em torno da NGC 5018 na constelação da Virgem
Imagem do Digitized Sky Survey em torno da NGC 5018 na constelação da Virgem

Vídeos

ESOcast 174 Light: Elegância elíptica (4K UHD)
ESOcast 174 Light: Elegância elíptica (4K UHD)
Aproximação à NGC 5018
Aproximação à NGC 5018
Panorâmica sobre a NGC 5018 e o meio que a rodeia
Panorâmica sobre a NGC 5018 e o meio que a rodeia